Quando um grupo de tambores, agogôs, caixas, alfaias e pandeiros começa a rufar, tem gente que se deixa levar tão completamente pelo som & quase um transe & que o corpo todo parece ir junto com o tum tum do coração. A anatomia enlouquece. A paixão pelo baticum se torna de tal forma intensa, que parte dessa gente escolhe dedicar ainda mais tempo e energia na prática. É quando a diversão passa a ser também pesquisa. Ultimamente, esse estudo sobre as formas mais tradicionais de tocar tambor tem conversado com expressões mais contemporâneas, mais atuais.
Boa oportunidade de juntar batuqueiros, pesquisadores e curiosos acontece a partir de amanhã (4), quando tem início a Bienal Percussiva 2009 e o V Encontro Estadual de Percussão, realizado pela Caravana Cultural. Na noite de abertura, muito afoxé, jongo, coco e outros ritmos no cortejo com os Batuqueiros da Caravana, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, a partir das 18h30min. De lá, o público pode seguir para o Sesc Iracema, bem pertinho do Dragão, onde às 19h30min começa as apresentações do grupo Flor de Laranjeira, Calé Alencar e Soul Nego. A programação vai até domingo (8), que além das atrações conta com mini-cursos e um seminário.
``A Bienal surgiu a partir de uma conversa aqui mesmo em Guaramiranga. Conversando com o Vanildo (Franco, do Tambores de Guaramiranga), a respeito do Perc Pan (Panorama Percussivo Mundial, festival de percussão que acontece em Salvador e Rio de Janeiro), falamos do que acontecia lá, dos movimentos percussivos, das oficinas, do intercambio cultural. E de como seria interessante fazer algo aqui também. Foi quando aconteceu o primeiro Encontro Estadual de Percussão``, começa Marcello Santos, curador do evento. Junto com a Caravana Cultural, o ritmista subiu a Serra para uma apresentação no último domingo, em pleno festival de origem alemã, a Oktoberfest.
A Caravana, como outros grupos percussivos, se tornaram febre em Fortaleza. São presença garantida em muitas festas da cidade & e nos pré-carnavais conseguem juntar cerca de 20 mil pessoas. ``Antes da primeira Bienal (em 2001), nós tínhamos em torno de 7 a 10 escolas. Depois da Bienal, e eu digo que nós contribuímos para isso, não fizemos tudo sozinhos, são cerca de 20 escolas. São muitos projetos trabalhando com percussão!``, conta. E admira-se como isso não reverbera positivamente em parte da sociedade & a parte que detém o dinheiro. À pergunta ``como é manter o evento?``, Marcello ri. ``Manter o evento? Nós estamos fazendo basicamente no zero. Temos apoio institucional, como a SDH que está nos cedendo o Parque das Crianças. Mas o gente não conseguiu um só patrocínio``, lamenta.
Daí todos os músicos do festival participarem sem remuneração. ``Eles vieram por conta própria. Estão pagando suas passagens, alimentação. Hospedagem se dá um jeito, tem gente lá em casa, outros estão com amigos``. Os poucos recursos são compensados pelo envolvimento que Marcello acredita que verá nos próximos dias. ``Nessa Bienal a gente está tentando olhar para o nosso interior, a gente quer fazer mais particular, mas mais aconchegante. Em qual sentido? Que os professores fiquem direto com os alunos, que os grupos se apresentem uns com os outros``.
SERVIÇO
BIENAL PERCUSSIVA 2009 E V ENCONTRO ESTADUAL DE PERCUSSÃO - Os eventos começam amanhã com o Cortejo de Batuqueiros da Caravana, às 18h30, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. A partir de 19h30, shows de Flor de Laranjeira, Cale Alencar e Soul nego, no Sesc Iracema. A programação segue até dia 8 de novembro, em diferentes espaços de Fortaleza.
Texto: Júlia Lopes
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